quinta-feira, 12 de julho de 2012

Esboço nº 1.


Epilogo
Tudo pronto para escrever uma historia de amor. Mas já passava das duas horas da manha, e o telefone não ia tocar. O silencio da noite cortava a alma como uma navalha.
 
Capitulo I – Linguagem e sinais.
 
Tudo era novidade. Ou não. Não tinha ainda o uniforme escolar, o que a obrigava a usar uma horrorosa calça azul com listras brancas laterais. Não fosse o bastante, eram alguns números acima do que usava, obrigando-a dobrar a barra. Tinha que durar alguns anos. Um dia antes, saira para o ritual que mais apreciava: ia comprar material escolar. Mas não qualquer material, era uma caixa de lápis de cor, a única coisa que seu pai lhe dava antes das aulas. O restante corria por conta da mãe e das diversas profissões que ela exercia: faxineira, costureira, arrumadeira, cabeleireira. Cadernos, livros, roupa, transporte, todo o resto. Mas os lápis de cor eram o máximo: podia escolher um estojo de 24 cores. E tinham um cheiro doce tão bom que dava vontade de comer.
Então, lá estava ela, lápis de cor na mochila, calça horrorosa, cabelos diligentemente presos e uma ansiedade de dar dor de barriga. Gente pra lá e pra cá e finalmente o sinal. Entrou na sala. Como não conhecia ninguém, sentou-se na frente. Os grossos aros do óculos a impediam de olhar os próprios pés. Estava suando. Era a primeira da lista de chamada.
Continua a primeira da chamada até a faculdade, o que lhe causa alguns transtornos. Antes, no fundamental, respondia presente com alegria. Hoje, é com pressa. Pressa pra poder ir embora depois da chamada, pressa pra voltar a dormir e babar sobre a carteira, pressa pra entregar logo a prova e ir embora. Não tinha mais lápis de cor, mas tinha uma caneta bic enrolada no cabelo. Agora que o cortara nem caneta tinha mais. Continuava com calças horrorosas e óculos de aros grossos. Um conceito bem claro: o óculos serve pra ficar com cara de inteligente, não bonita. Enquanto algumas garotas se ocupavam em comprar a ultima armação da Chanel, ela ia sem pressa às lojinhas dos coreanos da 25 de março e comprava a armação mais em conta e menos enfeitada. Da ultima vez, tinha passado quase um ano sem óculos porque perdeu não sabe onde (se perde, não tem que saber onde mesmo!), mas conseguiu comprar um quase igual àquele que tinha na segunda série, por uma única diferença: este era preto. O original, ou o primeiro, era vinho.
Na noite anterior se pegou pensando que todos vivemos um filme. E que esse filme pode ser de qualquer gênero. Se pudesse escolher um para sua vida, escolheria melosas comédias românticas em que o "felizes para sempre" fosse totalmente explicito e inequívoco. Mas a realidade tem muito mais nuances e nenhum fim, mesmo quando acaba para alguém, para outrem continua e o filme não para de ser rodado. Eram mais de duas horas da manha. Sentada sem conseguir dormir, imaginava a cadeia de situações que nos levam a um dado momento e o porque de nos encontrarmos em cenas tão distintas. Imaginou, olhando para uma rua com cheiro de asfalto, um casal de mãos dadas eternamente, envelhecendo, caminhando juntos. E olhou as próprias mãos, vazias, sentiu o peito apertar e foi dormir para viver mais um capitulo da historia de seu não romance.
 
 
(agora cansada de escrever, te mando esse esboço do esboço do esboço)

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