sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Se...


Se tivesse que dizer algo inusitado, diria que te amo. Diria que te amo por um segundo, não um século, pois temos muito amor e muitos amores pra viver, e a vida, enfim, é uma só.
No outro segundo diria que te odeio, e se transformando seu rosto em outro, diria que te amo novamente. Mas não seria o novamente, porque você já seria o outro que em um momento odiei e passo agora a amar.
E seria assim, sem pressa, um circulo em que todos os dias eu conhecesse e a um pedaço de ti, que me fizesse render. Como um peixe que desiste de se debater à rede, como o animal que cede ao abate, me faria morta para viver nos teus braços.
E todos os dias no amor-ódio-amor admirar as mascaras que a vida nos coloca, assim, de mansinho, como quem não quer nada.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Fruta


Toda fruta merece ser chupada. E é do profundo de teus sulcos que a natureza revela sua doçura e o arrebatamento do teu amargor. Pois nem só de doces se vive o sentimento, pois não?
Há que ter um bocadinho amargo à boca, para saudardes bem a presença de toda a doçura que há. E melhor é que se inicie amargo, para dar ao paladar o alivio de tua presença doce.
Se assim não o for, a amargura que fica tarda a ser esquecida, finca-se como tatuagem não apenas na língua, mas na própria alma. E nos molda de forma irremediável.
Mas eis que a doçura também nos faz alguma coisa. Todos os sabores, ora aqui, ora acolá, dão uma pequena batidinha nos flancos de si e formam curvas, retas, desníveis que nos moldam. Há vezes em que rimos, outras em que choramos, mas, no final, todas as historias dão um bom acabamento no que somos.
Cada um sabe a dor e a beleza de ser o que é, não?

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Leituras.


Será possível no pântano elevar-se pelo perfume da mais fina flor de lótus?
A esperança dos tolos é a luz que nos eleva
O mais puro sentimento se renova como raios de sol
De historias de guerras extraímos a esperança de belos frutos, de nobres sentimentos que elevam nossas almas. Mas o romantismo se esvai na batalha do dia-a-dia, ofuscado pelo egoísmo e sufocado pela frivolidade que toma nossos pensamentos.
Até quando não nos permitiremos conduzir pela pura esperança de algo melhor, esperando apenas pelo pior, vivendo num mundo paralelo onde nossos sonhos não encontram alicerce?
Quem me dera fossem as sensações mais afáveis o único ar a sustentar este peito doido, desiludido. Quem me dera não fossem apenas passagens fumegantes aquelas que nos enchem de alegria e lagrimas de felicidade.
A simplicidade das comedias ou a certeza das grandes aventuras me levam a crer que apenas nas terras dos elfos encontro alento para meu partido coração.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Sabbath bloody sabbath



E hoje vertes o sangue dos inocentes, mastigando as tripas das crianças, saboreando as lagrimas dos anciãos, sorrindo de forma sincera e rubra.
Nas tuas vestes, puro ouro, galopas em corcéis imponentes, trazes ao pescoço os mais raros diamantes.
Vocifera ódio, dilapida esperanças como quem quebra cascas de ovos.
Fácil. Mantém-se  no poder pela promessa falsa da felicidade. Os torrões de açúcar no topo da montanha.
Expõe em nossa face a futilidade de tuas conquistas como se justo fora o que te ocorreu. Matas bezerros e crias dragões.
Milhares morrem e continuarão morrendo para manter a injustiça.
E a noiva vem, exalando a volúpia de todos os amores que não puderam acontecer.
Banhada no sangue dos que não souberam amar, carregando as cabeças dos amores pueris.
E o espetáculo do mundo se abre, não com uma cortina, mas com um por do sol que não mais se extinguirá.
A noite derradeira, a noite da qual não mais acordaremos.
O hoje, o agora e o depois, quando acabarmos de matar nossa parca esperança, somente porque desistimos de lutar, inebriados pelo espetáculo sórdido da morte de todos nós.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Lacrimosa.


Fim dos tempos dentro de mim.



Espera. Quero te alcançar antes que chegue o fim.
O fim dos tempos, ou o tempo final, como queira.
Criei uma figura só pra mim.
Parecida com alguma coisa que conheço, mas desfigurada, de começo.
Olhos grandes e negros, mãos firmes, sentimentos pesados.
Quase um desassossego, um bicho acanhado.
Vez ou outra ele urra. Me assusta.
Vez ou outra ele dorme e eu sinto uma coisa aqui dentro que não sei dizer o que é.
Está dentro de mim, eu sei.
Não, não é papo de louco (ou seria? quem ousa?)...
Mas tudo tem um tempo, e esses olhos grandes sobre mim.
Fosse a fé o único esteio eu não teria receio.
Quem sabe antes do fim.
Quem sabe seria um sim?