sábado, 11 de janeiro de 2014

Gelo.

Um querer urbano invade o quarto iluminado por tocos de velas.
Seus pés dançam entre os lençóis enquanto enrosca seus dedos nas cortinas.
Pensa em desejos e em medos reprimidos, em opressão e reação, mas não deixa de sentir na ponta da língua uma frase feita para o choque.
Imagina o fim dos diálogos que vê passar sob a janela, mais uma vez enroscando sua mão no pano roto que a separa das ruas, medo e intimidade onde não há segredos.
Toca o chão gelado e sente o calafrio subir sua espinha e, num momento, imagina uma cama de cubos de gelo.
E se arrepia.
Em busca da sensação toca o corpo desnudo no chão.
Busca experiências que há muito se afastaram de suas vontades, sente como se muitas mãos percorressem sua pele.
Levanta-se, e nua, atravessa a porta e se entrega à efervescência da rua.
Destroçada como um porco, observa cada pedaço de si alimentando aqueles que buscam pela mesma diversão que ela imagina encontrar.
A cada mordida no seu corpo frio sente o prazer que lhe fora negado.
Carne, sente a vida fluir. Morte, espera o medo aguar.