segunda-feira, 5 de março de 2012

"Selo de Qualidade"

Qual a medida da dignidade e caráter de alguém?  E se limitarmos a analise à um gênero, que nomeamos por feminino, ou pessoas que chamamos mulher?
Recentemente ouvimos diversas afirmações de que não há preconceito na sociedade. Que em nosso país, homens e mulheres são tratados como iguais. A força de caráter de uma pessoa é valorada a partir da exposição de seus ideais e posturas com relação à sociedade e fatos sociais diversos em que signos como a bondade, a caridade e a honestidade se revelam com mais furor.
Prova de que as coisas mudaram em nosso pais seriam as leis, feitas para atender à uma sociedade patriarcalista. Não temos mais em nosso Código Penal o crime de defloramento, pelo menos. Mas até bem pouco tempo, tínhamos uma redação curiosa da lei (abaixo), em destaque para o artigo 215.

Posse sexual mediante fraude
Art. 215 Ter conjunção carnal com mulher honesta, mediante fraude,
Pena - reclusão, de um a três anos.
Parágrafo único - Se o crime é praticado contra mulher virgem, menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de dois a seis anos.

Evoluimos a passos largos! Não precisamos mais nos preocupar especialmente com termos divulgados como mulher honesta, ou ainda pior, o crime só entrava no tipo quando era contra a mulher honesta... E mediante fraude. Posse sexual mediante fraude contra mulher honesta.
Entao compas, superamos isso? Digo-te que não. Essa lei foi alterada em 2005. Lei 11.106/2005. Não é uma lei que estava em vigor no século passado. Não é uma lei do Irã, ou do Afeganistao, onde as praticas de opressão às mulheres são escancaradas. É uma norma que vigorava no Brasil. E não tem ainda 10 anos de sua alteração. Qual o espanto?
Meu espanto é saber como a sociedade caminha a passos de formiga em rumo ao reconhecimento dos direitos humanos e dos direitos da mulher, nesse caso em especial. Conquistamos o direito de trabalhar, mas não de receber o mesmo salario. Conquistamos o direito de ter que demonstrar dez vezes mais competência para o exercício do mesmo cargo que um homem. Conquistamos o direito de ficar em pé nos ônibus e carregar nossas próprias bolsas, mas não o direito à educação daqueles homens que nos circundam.
Julgamos umas às outras em função da roupa. E o que diz sobre o caráter de uma pessoa o comprimento da saia que ela veste? É julgando aos demais que declaramos ser favoráveis à liberdade de todos? Respeito, dignidade, coragem, força, honestidade, são características subjetivas que não deveriam ser relacionadas à aspectos estéticos impostos pela sociedade. As índias andavam nuas, e quem seria capaz de dizer que não havia bondade (e também alguma maldade) no coração delas? Quem seria capaz de afirmar que eles não agiram com total inocência ao receber os portugueses (se é que a história que nos foi contada é verídica)?
O fato que podemos expor, e concluir de todos esses absurdos que recentemente estavam incólumes em nosso ordenamento jurídico é que a mulher ainda é tratada como mera mercadoria pela sociedade, que precisa de um “selo de qualidade” para comprovação de seu valor. Que a mulher, solteira e com filhos, sofre muito mais preconceito quando o campo é o dos relacionamentos, o que nem de perto afeta aos homens. 

Que ser mulher e honesta estar relacionado a comportamentos sexuais não tem a mínima logica, bom, isso muitos vão admitir que sim. Mas quantas vezes mais iremos ouvir que aquela roupa é de piriguete ou que aquela menina é pra casar?
Quantas vezes iremos ouvir que a postura sexual de uma pessoa é elemento que define seu caráter?
Pode apontar muito sobre seus hábitos, não sobre seu caráter. Entre uma MULHER que tenha relações e outra que não as tenha há apenas uma diferença: uma experiencia. Engraçado que, na contramão dessas opiniões, quando um HOMEM tem relações intimas... quanto mais melhor! Quanto mais ele faz, mais homem ele é. A mulher? Taxada de vagabunda, piranha. O homem? O garanhão, o bonzão. E quantas mulheres repetem esse bordão, como a ausência de uma conjunção carnal fosse algum "selo de qualidade".
Sinceramente eu não entendo como vim parar nessa sociedade. Quem me dera ter nascido 100 anos para frente ou para trás.
Para frente porque eu realmente espero que todo esse conceito estúpido e machista que impera na terra brasilis acabe um dia.
Para trás porque muito pior que lidar com o preconceito é lidar com a hipocrisia.

domingo, 4 de março de 2012

Quem nunca...

Quem nunca
Amou como se fosse a última chance
Chorou como se fosse a última lágrima
Dançou como se fosse a última música
Cantou como se fosse a única voz
Pulou como se fosse um precipício
Voou como se pássaro fosse
Se entregou como se fosse a revolução
Acordou como se fosse um sonho bom
Caminhou como se fosse o destino
Ignorou como se não fosse um espinho

Quem nunca suspirou como se fosse a vida
Assoprou como se curasse a ferida
Levantou como se fosse um tropeço
Terminou quando era só o começo
Imaginou ser o herói do romance
Percebeu que era só figurante...