terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Vermelho

Meus lábios vermelhos
Tem a cor da liberdade
Da alegria
Da sensualidade
Da luta pelo amor
Pela vida.
Daquilo que sente
Guarda pois para ti
A mais bela semente
Do que não alcançarás
Das estrelas dos céus.
Acima de nós a vida
A força
Coragem
De amar, querer e ser querida,
A benção dos deuses
Daqui e de lá.
Nos meus lábios vermelhos
Corda sensual
Que envolve os corações
Dos incautos caçadores
Perdidos na floresta
Dos desejos inconciliáveis.
Meus lábios vermelhos
Tem a cor da liberdade
Da força da mãe
Da verdade.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Karma police


Imagem

Não funciona.
Eu não sei porque nossa mente guarda tantas informações e de forma tão aleatória elas conseguem destruir nossa estrutura.
Tenho aqui guardadas muitas lembranças.
Lembro de uma árvore cheia de flores no caminho para a Bahia. Tiramos uma foto em frente à esta árvore. Na foto, eu sou aquela pequena cabeça no campo inferior central.
Lembro também do dia que fui tirar meu primeiro RG. Não é da foto do RG que me lembro.
É de quando eu saia do conhecido "Panelão" e vi um garoto, que nao aparentava mais de 6 anos, fumando crack escondido atrás de uma moça, grávida e dormindo no chão.
Ainda tem o dia que reparei pela primeira vez nas estradas de Minas. As montanhas, as curvas. E o céu estrelado enquanto vencíamos a distância, as três marias brilhando lá no alto - pequenos sóis de um lugar distante. Os sonhos que ficam pra trás quando estamos na estrada.
A primeira vez que olhei aquele monte de luzes artificiais que povoavam a Avenida Paulista. E a grande antítese quando pela primeira vez olhei o luar do sertão. Meu coração viaja nas luzes, sonhando ser uma pequena estrela ainda hoje.
Aquela foto de escola com a bandeira do estado atrás da gente. Aquele flash agressivo e a palavra do moço: sorria. Eu estava chorando e não me esqueço.
Daquele momento do primeiro beijo, debaixo da sombra de um pé de jabuticaba, roubado e proibido, o começo das descobertas da relação como algo além que ainda hoje não entendo.
Lembro de quando pela primeira vez olhei aqueles pequenos olhos castanhos, aquele sorriso sem dente e o amor que eu vi crescer que eu nem imaginava que ia sentir. O Chiquinho era Letícia.
Lembro daquelas pessoas que se uniram para não serem mais obrigadas a cozinhar palma na hora do almoço e formaram a cooperativa mais forte do nordeste. E a imagem que se segue à essa é a da empresa que poluía sem critérios o pequeno fio de rio que cortava Valente.
Tem daquela garota linda que eu vejo dormindo na rua, com sua cadelinha, e sua solidão inenarrável, e a companhia às vezes das mulheres que tentavam de alguma forma evangelizar a garota, quando não lhe davam broncas por "andar tão mal vestida". Nessa mesma imagem minha incompetência de pensar numa solução pra isso.
Essas fotos vão e vem, me pego lembrando, e outras imagens novas se mimetizam do velho e vice-versa.
Lembro quando eu disse tchau e disse em dezembro tô ai. Lembro das lágrimas que o sol secou no meu caminho de volta.
Passamos em frente àquilo que pensamos ser a árvore florida da nossa primeira viagem.
E continuei acumulando imagens. Muitas cores.
Tenho a imagem de um sonho doce, de um carinho cheio de amor de alguém de quem sinto falta sem saber quem é.
Tenho a imagem suave de tantos amigos quantos posso carregar no coração - e não me canso nunca de acumulá-los. Cada sorriso, cada cachinho, cada abraço tem valor inestimável.
Tenho as imagens, as fotos de cada minuto, e uma saudade imensa de muitos deles.
Tenho novas coisas que me pegam assim de surpresa e não largam. Coisas que eu não imaginava mesmo. Ou que talvez sejam frutos da imaginação.
E quero mais, que sejam felizes e me dêem coragem, porque das outras, estas que me derrubam e desmontam... essas sobram.

domingo, 8 de dezembro de 2013

Mãos

E era assim.
Ela enrolava minhas pequenas mãos nas suas, grandes e fortes. Me olhava daquele jeito amoroso, confiava e me dizia, quando atravessávamos a rua "corre". E eu corria, esticando minhas pernas pequenas e gorduchas como se fosse o fim do mundo, como se atrás de mim se abrissem grandes precipícios entre as enormes faixas brancas em que meus pés teimavam em tocar.
Sua força, seu amor e sua coragem me guiaram por muitas vezes, e me guiam hoje quando ela apenas me diz para não esquecer o guarda-chuva.
Em muitos momentos depois, quando eu tenho imensa vontade de parar de correr (ou simplesmente caminhar pelas faixas que a vida põe à minha frente enquanto destrói tudo o que deixei para trás), me lembro das mãos dela.
Na vida há momentos que não sabemos nem mesmo porque choramos. Mas choramos. Porque somos esse conjunto de alegria e tristeza que se mescla e forma nosso caráter.
As cicatrizes marcam aquilo que vencemos.
Vencemos quando paramos de chorar e mesmo quando choramos, estamos vencendo.
É fato que essa força de vontade de seguir some mais vezes do que eu gostaria.
Pintamos nossa figura como a mais forte de todas, nos tornamos fortes porque acreditamos nisso.
Não ganhamos todas, nem poderíamos, não há grandes lições apenas em vitórias plenas. Precisamos cair às vezes: na realidade, no choro, na risada, na cama.
Esperamos que com essas lições involuntárias, nossas pequenas noções de vida e de como proceder com esse dom que nos é dado sem manual de instruções, se aperfeiçoem.
Queremos nos tornar pessoas melhores e mais fortes porque precisamos aprender a correr sem segurar nas mãos de ninguém, porque - mesmo de forma figurativa, como no meu caso - crescemos.
E imaginamos que ao atravessar as ruas sem mãos fortes que envolvem as nossas pequeninas mãos inexperientes, caimos.
Porque vamos continuar, e algumas vezes cair e ralar o joelho, mas precisamos continuar.
E mesmo que não possamos saber com certeza, na verdade, eu acho que nunca estamos correndo sozinhos.
As mãos são outras e as mesmas ao mesmo tempo, e corremos.
Ainda queria voltar ao tamanho de embrião e me proteger dessa loucura que é a vida e de suas inenarráveis fontes de esgotamento. Mas o que ficou para trás é pó. Então não podemos parar.
Chorando ou rindo corremos.
Porque o caminhar é desse jeito: um sem fim de um passo após o outro enquanto atrás de nós tudo vira cinzas.
Novas mãos, amores, amigos, desilusões e faixas de pedestre. Não é a vida um correr acompanhado, afinal?
Segura minha mão para que juntos possamos vencer os precipícios tristes.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Sem data.

Fiz meus planos
Coloquei suas fotos no mural do meu pensamento
Dos momentos que não vivi
Dos beijos que não roubei
Apresentei meu sentimento ao espelho
De um futuro que nunca terei
Seu sem rosto me fascina
Seu sentimento sem nome me alucina
Fiz todos os esquemas
De datas e estratagemas
Para um futuro que não vai existir
Te imaginei livre e correndo
Entre tantos passatempos
Esculpidos no calor da noite
Entre os lençóis impuros da lascívia
Te imaginei sem rosto
Na insensibilidade do Platão
Te guardei no meu coração.