segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Imagem

Não funciona.
Eu não sei porque nossa mente guarda tantas informações e de forma tão aleatória elas conseguem destruir nossa estrutura.
Tenho aqui guardadas muitas lembranças.
Lembro de uma árvore cheia de flores no caminho para a Bahia. Tiramos uma foto em frente à esta árvore. Na foto, eu sou aquela pequena cabeça no campo inferior central.
Lembro também do dia que fui tirar meu primeiro RG. Não é da foto do RG que me lembro.
É de quando eu saia do conhecido "Panelão" e vi um garoto, que nao aparentava mais de 6 anos, fumando crack escondido atrás de uma moça, grávida e dormindo no chão.
Ainda tem o dia que reparei pela primeira vez nas estradas de Minas. As montanhas, as curvas. E o céu estrelado enquanto vencíamos a distância, as três marias brilhando lá no alto - pequenos sóis de um lugar distante. Os sonhos que ficam pra trás quando estamos na estrada.
A primeira vez que olhei aquele monte de luzes artificiais que povoavam a Avenida Paulista. E a grande antítese quando pela primeira vez olhei o luar do sertão. Meu coração viaja nas luzes, sonhando ser uma pequena estrela ainda hoje.
Aquela foto de escola com a bandeira do estado atrás da gente. Aquele flash agressivo e a palavra do moço: sorria. Eu estava chorando e não me esqueço.
Daquele momento do primeiro beijo, debaixo da sombra de um pé de jabuticaba, roubado e proibido, o começo das descobertas da relação como algo além que ainda hoje não entendo.
Lembro de quando pela primeira vez olhei aqueles pequenos olhos castanhos, aquele sorriso sem dente e o amor que eu vi crescer que eu nem imaginava que ia sentir. O Chiquinho era Letícia.
Lembro daquelas pessoas que se uniram para não serem mais obrigadas a cozinhar palma na hora do almoço e formaram a cooperativa mais forte do nordeste. E a imagem que se segue à essa é a da empresa que poluía sem critérios o pequeno fio de rio que cortava Valente.
Tem daquela garota linda que eu vejo dormindo na rua, com sua cadelinha, e sua solidão inenarrável, e a companhia às vezes das mulheres que tentavam de alguma forma evangelizar a garota, quando não lhe davam broncas por "andar tão mal vestida". Nessa mesma imagem minha incompetência de pensar numa solução pra isso.
Essas fotos vão e vem, me pego lembrando, e outras imagens novas se mimetizam do velho e vice-versa.
Lembro quando eu disse tchau e disse em dezembro tô ai. Lembro das lágrimas que o sol secou no meu caminho de volta.
Passamos em frente àquilo que pensamos ser a árvore florida da nossa primeira viagem.
E continuei acumulando imagens. Muitas cores.
Tenho a imagem de um sonho doce, de um carinho cheio de amor de alguém de quem sinto falta sem saber quem é.
Tenho a imagem suave de tantos amigos quantos posso carregar no coração - e não me canso nunca de acumulá-los. Cada sorriso, cada cachinho, cada abraço tem valor inestimável.
Tenho as imagens, as fotos de cada minuto, e uma saudade imensa de muitos deles.
Tenho novas coisas que me pegam assim de surpresa e não largam. Coisas que eu não imaginava mesmo. Ou que talvez sejam frutos da imaginação.
E quero mais, que sejam felizes e me dêem coragem, porque das outras, estas que me derrubam e desmontam... essas sobram.

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