quarta-feira, 13 de março de 2013

Coelhos brancos

Alice corria atrás de um Coelho branco. Às vezes corro. Corro porque estou atrasada nem sei pra que, mas estou. Sempre correndo sem chegar a lugar nenhum, como algumas coisas que me fazem crescer e outras que me diminuem. Me alimento de palavras.

Me alimento daquilo que me dizem. Me alimento de palavras de carinho e de amor, assim como me alimento de palavras de desamor. Vou usar o termo desamor, porque desamor não é tão pesado, se podemos dizer assim. Desamor. Des amor, de amor, amor. Poderíamos pensar que todas as palavras deveriam ser assim, decompostas antes da digestão.

Não decompomos as palavras e acabamos por engolir sem aviso. Aliás, além de não efetuarmos a decomposição para uma adequada digestão, não a decodificamos da maneira correta.
Deselegante des elegante de elegante elegante, dissabor dis sabor sabor...Seria mais ou menos como tirar ossinhos de frango para comermos só a carne macia e suculenta.
Mas a quem eu quero enganar?

Passamos um bom tempo de nossas vidas, no aspecto material, aprendendo a comer desta ou daquela maneira, porque assim faz bem ou faz mal. Porque é ou não é adequado comer os ossos, ou retirar a pele, ou a carcaça, ou a comer o que dá, quando dá, se dá.

Mas não se dá o mesmo com as palavras. Falamos merda, feio, porra, caralho, xingamos a rodo, desqualificamos. Não porque somos ruins, porque somos assim. Somos um grande saco de merda prestes a explodir. A humanidade é um grande saco de merda.

E daí que você está atrás do Coelho branco? E daí que está atrasado? E daí que te xingaram? A grande merda do mundo é isso aí. Você vai xingar de volta, você vai lutar pelo que acredita, e vai continuar correndo, crescendo, diminuindo às vezes. Sem chegar a lugar nenhum, alcançando um ou outro posto.

Engolindo ou cuspindo, tanto faz. Serão Coelhos Brancos e você, atrás deles, pensando ainda que está atrasado. Viva a porra da vida sendo o que você é sem medo de ser feliz. Sem preconceitos.

Sabe porque as palavras te machucam? Porque damos importância aos outros antes de pensar no nosso próprio ego. Seriam os psicopatas exemplos de felicidade?

Eu quero que esta merda se foda.

Não vou atrás dos coelhos. Vou enlouquecer com a lagarta.

domingo, 10 de março de 2013

08.03.13

Quando penso no que sou
Pouco me agrada ou completa
A maior parte disso tudo é sonho.

Pó estelar
Desafios incalculáveis
E asas de borboleta.

A maior parte disso tudo sequer sou eu
Sequer serei eu
Mas no meu imaginário

Sou tudo o que posso ser
Mais aquilo que me nego a crer.

terça-feira, 5 de março de 2013

Que todo sentimento contrário exista.

Que todo sentimento contrário exista.

Ela passeava, como num dia qualquer. Ele também.
As bolsas, os livros, a vontade de mundo, tudo isso ela trazia a tiracolo.
Ele caminhava com desejos só dele, um braço enorme de abraçar o universo e umas mãos boas de carinho.

Caminhavam neste mundo, separados pelo destino, unidos pelo universo, numa valsa vai-e-vem interminável. Ela entrava no coletivo, ele acabava de descer. Ela pedia pra viagem, ele queria comer no restaurante, sem pressa. Ela pedia passagem, ele nem levantava a cabeça.

E iam assim mesmo, sem caso ou descaso, somente ali, no mesmo espaço, sem conhecerem-se. O mesmo trajeto, os mesmos lugares, e nunca foi tão fácil estar perto-longe.

Ela passeava como num dia qualquer. Ele também.

Quando de repente, assim, sem avisar, um ônibus passou pela cabeça dela.

E aquela história de viva como se não houvesse amanhã doeu no peito dele.

sábado, 2 de março de 2013

Estrela

Permita-me uma analogia injusta
De um ponto de vista singular
Daqui vejo as estrelas
Embora elas não me vejam
Sinto o brilho bailar em meus olhos
E a escuridão se propagar
Então parece
Que o que se ofusca à minha frente
É menor que a luz que me guia.

É um olhar só meu
Dos olhos teus.