sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Fim de ano


Feliz mundo novo velho de sempre diferente igual a qualquer outro.
Que nossa pele fique verde de encantamento, que possamos acreditar em fadas e dormir abraçados em toalhas.
Que nossos dias virem noites e as noites virem dias, assim, um atrás do outro, todos os dias.
Que de vez em quando a gente acredite num eclipse catastrófico só pra ter frio na barriga.
Que no meio do frio na barriga, eu possa apertar suas mãos juntinho do meu peito e dizer que te amo.
Que os beijos sejam doces como mel e azedos como limão para não enjoar. No meio disso haja muita tequila e samba pra dançar.
Que a chuva molhe, que o sol esquente e que a lua esconda, nem sempre nessa ordem, nem sempre nesses pares.
Que possamos amar e odiar, sentir o sangue pulsar ao mesmo tempo que sentimos que a vida vai.  Sim, ela vai, e nesse meio tempo, precisamos tentar.
Quero cair. Quero cair, me levantar, acreditar, chorar, rir, correr, tudo o que se pode. Nesse mundo velho tanta coisa há que desperdiçar uma chance para qualquer coisa não é aceitável.
Desejo que morram também. Morram os preconceitos, a fome e a miséria causada pela mesquinhez. E que morra a mesquinhez, e que quebre a bolsa.
Quebre a bolsa de Nova York, Tókio, Xangai e quebre a Louis Vitão. Quebrem todas essas merdinhas que não nos trazem nadinha de bom.
Que cresça a Reforma Agrária e se desenvolva como gente grande. Que possamos plantar e ver crescer, caminhar juntos, costurar. Um sonho estilo John Lennon.
Que seja tudo isso e muito mais. Que seja saúde, que seja amor, que sejam memórias.
Que sejam obstáculos para que possamos ter vitorias.

sábado, 24 de novembro de 2012

13.12.2012

Alguns dizem que o mundo vai acabar em 21.12.2012. Eu não compartilho dessa ideia.
Na minha cabeça pequena e limitada, eu estarei comemorando um novo nascer no dia 13. E dia 21 será apenas mais um dia de alegria.
Sou testemunha da luta empreendida por uma mulher forte, que desde o primeiro dia de seu diagnóstico disse que venceria a guerra contra a enfermidade que, por fim, descobriu que se instalara em seu pulmão, fígado e intestino.
Seu exemplo de determinação, de não baixar a cabeça ante a dificuldade. Seu discurso firme de que iria se curar dessa coisa que ela tinha.
Sua fé, e também, porque não, suas dúvidas.
Mas acima de tudo, seu amor pela vida e pelos filhos.
Eu sei que vai passar, mas desde o momento em que soube da data agendada, não consigo me concentrar em outras coisas.
Acho que deve ser semelhante à ansiedade de uma mãe que está prestes a conceber.
Vai passar, e vamos vencer. Distribuiremos sorrisos doces, pequenas lembranças de nossa vitória.
Fé é o que nos sustenta, amor nos alimenta.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

“Lindos olhos os seus”


Meus dedos são anatomicamente desenhados para tremer. Ensaiei varias frases prontas para o encontro, como “hoje está um lindo dia de sol”, ou “que tal uma coca-cola?” ou ainda, “lindos olhos os seus”.
E me pegava imaginando seus lábios, seu sorriso e seu corpo. Imaginava seu calor, caricias e mais tudo o que pessoas enamoradas sonham. Imaginei meia luz e luz inteira, suspiros e calores que subiam dos pés à cabeça. Mas a única coisa que precisava me atentar, naquele momento, era uma única frase.
Passaram-se horas, e dias, e meses. Nenhuma frase se fez crescente em meu coração, mas todos os sentimentos do mundo povoaram meu pensamento. Eu era uma verdadeira nação ambulante de periclitantes sentidos. Voava a fadinha apaixonada, e o anão emburrado. Teve espaço para o unicórnio do ciúmes e para a princesa da saudade. Seres imaginários que representavam tão bem, na minha mente, todos os sentimentos que eu tinha. E até seres que não existiam, como um com cabeça de fada, corpo de anão, pés de unicórnio e mãos de princesa.
E voltava a imaginar a frase, sentindo os dedos trêmulos e a respiração ofegante. Naquela mesma situação, imaginando o inimaginável, e sonhando o improvável. Tudo por conta de uma frase não dita, ou que, se dita, não seria ouvida.
E me recolhi ao meu mundo, agora despovoado, porque desprovido de sentimentos, apegada a uma única frase, sem a coragem de pronunciá-la, sem vontade de manifestá-la. Imaginei um telegrama, talvez, comprovação de conteúdo e entrega.
“Lindos olhos os seus”.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Se...


Se tivesse que dizer algo inusitado, diria que te amo. Diria que te amo por um segundo, não um século, pois temos muito amor e muitos amores pra viver, e a vida, enfim, é uma só.
No outro segundo diria que te odeio, e se transformando seu rosto em outro, diria que te amo novamente. Mas não seria o novamente, porque você já seria o outro que em um momento odiei e passo agora a amar.
E seria assim, sem pressa, um circulo em que todos os dias eu conhecesse e a um pedaço de ti, que me fizesse render. Como um peixe que desiste de se debater à rede, como o animal que cede ao abate, me faria morta para viver nos teus braços.
E todos os dias no amor-ódio-amor admirar as mascaras que a vida nos coloca, assim, de mansinho, como quem não quer nada.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Fruta


Toda fruta merece ser chupada. E é do profundo de teus sulcos que a natureza revela sua doçura e o arrebatamento do teu amargor. Pois nem só de doces se vive o sentimento, pois não?
Há que ter um bocadinho amargo à boca, para saudardes bem a presença de toda a doçura que há. E melhor é que se inicie amargo, para dar ao paladar o alivio de tua presença doce.
Se assim não o for, a amargura que fica tarda a ser esquecida, finca-se como tatuagem não apenas na língua, mas na própria alma. E nos molda de forma irremediável.
Mas eis que a doçura também nos faz alguma coisa. Todos os sabores, ora aqui, ora acolá, dão uma pequena batidinha nos flancos de si e formam curvas, retas, desníveis que nos moldam. Há vezes em que rimos, outras em que choramos, mas, no final, todas as historias dão um bom acabamento no que somos.
Cada um sabe a dor e a beleza de ser o que é, não?

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Leituras.


Será possível no pântano elevar-se pelo perfume da mais fina flor de lótus?
A esperança dos tolos é a luz que nos eleva
O mais puro sentimento se renova como raios de sol
De historias de guerras extraímos a esperança de belos frutos, de nobres sentimentos que elevam nossas almas. Mas o romantismo se esvai na batalha do dia-a-dia, ofuscado pelo egoísmo e sufocado pela frivolidade que toma nossos pensamentos.
Até quando não nos permitiremos conduzir pela pura esperança de algo melhor, esperando apenas pelo pior, vivendo num mundo paralelo onde nossos sonhos não encontram alicerce?
Quem me dera fossem as sensações mais afáveis o único ar a sustentar este peito doido, desiludido. Quem me dera não fossem apenas passagens fumegantes aquelas que nos enchem de alegria e lagrimas de felicidade.
A simplicidade das comedias ou a certeza das grandes aventuras me levam a crer que apenas nas terras dos elfos encontro alento para meu partido coração.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Sabbath bloody sabbath



E hoje vertes o sangue dos inocentes, mastigando as tripas das crianças, saboreando as lagrimas dos anciãos, sorrindo de forma sincera e rubra.
Nas tuas vestes, puro ouro, galopas em corcéis imponentes, trazes ao pescoço os mais raros diamantes.
Vocifera ódio, dilapida esperanças como quem quebra cascas de ovos.
Fácil. Mantém-se  no poder pela promessa falsa da felicidade. Os torrões de açúcar no topo da montanha.
Expõe em nossa face a futilidade de tuas conquistas como se justo fora o que te ocorreu. Matas bezerros e crias dragões.
Milhares morrem e continuarão morrendo para manter a injustiça.
E a noiva vem, exalando a volúpia de todos os amores que não puderam acontecer.
Banhada no sangue dos que não souberam amar, carregando as cabeças dos amores pueris.
E o espetáculo do mundo se abre, não com uma cortina, mas com um por do sol que não mais se extinguirá.
A noite derradeira, a noite da qual não mais acordaremos.
O hoje, o agora e o depois, quando acabarmos de matar nossa parca esperança, somente porque desistimos de lutar, inebriados pelo espetáculo sórdido da morte de todos nós.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Lacrimosa.


Fim dos tempos dentro de mim.



Espera. Quero te alcançar antes que chegue o fim.
O fim dos tempos, ou o tempo final, como queira.
Criei uma figura só pra mim.
Parecida com alguma coisa que conheço, mas desfigurada, de começo.
Olhos grandes e negros, mãos firmes, sentimentos pesados.
Quase um desassossego, um bicho acanhado.
Vez ou outra ele urra. Me assusta.
Vez ou outra ele dorme e eu sinto uma coisa aqui dentro que não sei dizer o que é.
Está dentro de mim, eu sei.
Não, não é papo de louco (ou seria? quem ousa?)...
Mas tudo tem um tempo, e esses olhos grandes sobre mim.
Fosse a fé o único esteio eu não teria receio.
Quem sabe antes do fim.
Quem sabe seria um sim?

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Vazamentos anormais.

Que em todo corte vaza um pouco de mim, eu sei.
E que tem vazado tanto que acho que estou com goteira.
Vaza de enxurrada, nao vaza mais de corta-pingo como antes.
Parece que o sangue virou areia, daquela bem fininha que o vento carrega.
E de maldade só, porque o vento nem há de fazer nada com a areia.
Eu podia usar com cimento e pedrinhas pra construir uma caixa onde me esconder.
Que toda vez que eu corto vaza um pouco de mim.
Eu nem sei porque eu sou assim...

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Pontos reticentes

Ao viciado, a bebida. À bebida, o vício.
E ao vício a cólera.
À cólera, teus olhos, rasgados, estraçalhados.
Aos frangalhos, a mentira mais deslavada.
À mentira, a navalha, a navalha.
Na carne viva e ensanguentada
Dessa sociedade descarada.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Tatuagem.

Quero gritar alegrias
E amar o amor
Sem anestesia
Só poesia e calor

Um sentimento abstrato
Sem nome ou formato
Que me tome de assalto
Me faça morrer em teus lábios

Não venha suavemente
Não suspire doçuras
Inspira-me abruptamente
Me faça cometer loucuras

Seja a carne e o espírito
O sussurro e o grito
Um sentimento profano
Insano e santo.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Amor


Eu estava com dúvidas. Queria saber qual o exato momento em que descobrimos que amamos alguém.
Daí ela se sentou ao meu lado, e enquanto eu acarinhava o pobre passarinho que caiu do ninho, ela me disse:
- Isso é descobrir que amamos alguém. Esse querer bem, cuidado, essa vigia. Porque sabemos o quanto queremos que o ser amado fique bem, para que possa voar livremente, como esse passarinho.

Eu tinha seis anos. E ainda, quando me acho querendo cuidar de alguém, percebo que amo.


segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Questão de pele.




E insisto nisto
Que há uma pele por dentro de outra
E tantas peles recebem marcas
Que chego a não ser eu quando mais preciso
Ou quando imagino que seja necessário
Sou um outro quê qualquer que se perde em devaneios
E busca historias sem fim, meio ou começo
Uma pele é puro amor
A outra deleite, luxúria, libido.
Um eu busca você
A outra te quer à mercê 
Escravo das minhas mil peles
E milhares de sentimentos
Que te envolvam tal qual um casulo
Para que voes tal qual uma borboleta.