sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Amor


Eu estava com dúvidas. Queria saber qual o exato momento em que descobrimos que amamos alguém.
Daí ela se sentou ao meu lado, e enquanto eu acarinhava o pobre passarinho que caiu do ninho, ela me disse:
- Isso é descobrir que amamos alguém. Esse querer bem, cuidado, essa vigia. Porque sabemos o quanto queremos que o ser amado fique bem, para que possa voar livremente, como esse passarinho.

Eu tinha seis anos. E ainda, quando me acho querendo cuidar de alguém, percebo que amo.


segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Questão de pele.




E insisto nisto
Que há uma pele por dentro de outra
E tantas peles recebem marcas
Que chego a não ser eu quando mais preciso
Ou quando imagino que seja necessário
Sou um outro quê qualquer que se perde em devaneios
E busca historias sem fim, meio ou começo
Uma pele é puro amor
A outra deleite, luxúria, libido.
Um eu busca você
A outra te quer à mercê 
Escravo das minhas mil peles
E milhares de sentimentos
Que te envolvam tal qual um casulo
Para que voes tal qual uma borboleta.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

sol entre nuvens.

Que a vida nos prepare para a dor, assim como para a separação. Que nos preparemos para o desamor e para a desilusão. Que possamos ser sol entre nuvens e nuvens com sol sem consternação.
Das cinzas às cinzas e do pó ao pó como uma constelação.

Errata. Amo tlmkt

Até o jeito de abreviar denota tensão.
Lembrei de como atender a um determinado publico é chato... De como atender a pessoas que já estão aptas a fazer uma reclamação é insuportável.

Era 24 de dezembro. Não que eu celebrasse a data, mas passava das 22 horas e nem sinal de sair do serviço natalino. Já tinha passado dias só ouvindo o CD de Natal da Simone, e, pra usar uma interjeição apropriada, minha nossa senhora do saco cheio...

- Por favor, avisem aos próximos que chegarem para fazer pacote que já encerramos o expediente, tudo bem?

Continuei a trabalhar, e embrulhava de um tudo: escada, piscina, ursão, batedeira, bujao de gás...

- Senhora, encerramos por hoje.
- Como assim encerraram? Vocês não têm esse direito! Eu preciso embrulhar meus presentes!
- Podemos te dar o papel e a senhora embrulha em casa, pode ser?
- Claro que não! Eu paguei por esse serviço!
- Mas senhora, já são 22:40, entramos às 10 horas e como você, também precisamos ir pra casa.
- Isso não é problema meu.
- Nem meu. Não vou embrulhar.

Minutos depois, o gerente me chama à sessão. Vamos ratificar a exploração: a mulher é uma pobre cliente, e precisa embrulhar seus presentes de natal. Eu poderia levar uma advertência, mas como o gerente era um cara muito legal, eu apenas precisaria embrulhar a escada da agradável senhora pra ir embora.

Embrulhei a escada. Não sem perceber um tom de sarcasmo e satisfação na cara daquela mulher, do tipo "quem manda aqui sou eu".

Sai do serviço era quase meia noite. Não tinha ônibus. Andei 45 minutos até minha casa, pra chegar lá e não encontrar ninguém.

Mas aposto que a escada não era presente de natal.

Pior: me lembrando disso, me pego pensando se não acabo reproduzindo essa lógica histérica.


terça-feira, 14 de agosto de 2012

Brancas negras nuvens passageiras são apenas...

Nuvens. Adoro algodão doce. E chuva. E chovia.
Porque toda boa historia que se preza começa com uma chuva torrencial. E como nuvens negras, que espremem milhares de litros de água sobre uma única casa.
Um terror à brasileira bem que poderia explorar milhares de litros de água sobre um pequeno barraco à beira do córrego. Talvez alguns dissessem que isso é desumano demais, mas, oras, é desumano na ficção e não é na vida real?
Classe média ou miserável, tem que começar com chuva.
E as gotas da chuva se confundem com o choro e o sangue do protagonista. A bem da verdade, não se começa uma boa história matando o protagonista... Tem que matar o cavalo do protagonista, ou o cachorro, ou o gato siamês (tem que ter raça, viralata não dá pé). Pois bem, confundiam-se as lágrimas do protagonista com o sangue do bichinho e com a chuva, e é aquela cena toda.
E passos são ouvidos. Mas há uma incoerência...
Como numa chuva torrencial, que eu já não consigo imaginar sem trovões e relâmpagos, chorando por um bichinho X (que já estou pensando, podia ser um desses patinhos engraçadinhos) alguém vai ouvir passos? Não, veja lá! Se os sapatos forem Prada, bem que dá! Mas, molhar um Prada?  Seria um baita desperdício! Vamos então dizer que o protagonista, chorando copiosamente por seu patinho, numa chuva dos diabos e quase tomando relâmpago nas ventas, ouve o motor de um belíssimo carro, último modelo, importado.
Tem que ser importado porque nacional não dá glamour.
Agora me desconcentrei. O diacho da internet deu pau. Então pensei: pra ser uma coisa chique, ultima tendência em Paris, tem que ser retrô. Então a história será ambientada em 1.920, e eu nem sei qual carro era o plus da época. Será que era o Fusca?
Mas, voltando à história, nessa chuva dos infernos e com uma porcaria de pato assado na mão (decido agora que esse lazarento morreu eletrocutado por um raio), chega a porra duma Brasilia com uma velha caquética e cheia de pó de arroz na cara, com um guarda-chuva que mais parecia um guarda-sol.
Se vira para a protagonista e diz:
-...

É gente, acho que sai do clima da história. A chuva bodeou os planos do verão na França.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Suspire suavemente

Suspire suavemente, sinta ares diferenciados daqueles que outrora te ladearam.
Talvez novas flores se animem em nascer na tua companhia, talvez. Colherás frutos diferentes, poderás sorver de novos vinhos e novos sabores.
Caminharás sentindo diferente terra sob teus pés, não somente o chão, as paredes, as cores, tudo haverá de modificar-se sem que teus olhos observadores deixem de perceber.
Hás de relatar todas as novas experiências, mas uma apenas deixarás de procurar: a certeza de que estamos todos aqui a te esperar.


segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Acelerado.

Meu coração bate acelerado. Medo de perder a hora, medo de perder o emprego, medo de perder o relógio, a chave e a aula. Medo de se perder no meio de tanto medo de perder alguma coisa. Choro por dentro porque dizem que não é elegante deixar lágrimas soltas por ai. Chega a ser um despaltério. Lágrimas foram feitas para ficar presas, assim como sentimentos libertadores. Aliás, acho que eles são como unicórnios: simplesmente não existem.
Ou de repente, de um ponto de vista antropófago, estou engolindo e vomitando meus sentimentos imaginando a universalidade das percepçoes.
Mas o medo é uma coisa universal, não é? Nos dias de hoje, não mais o amor. Se um dia foi o amor o sentimento universal, isso deve ter se adstrito ao Éden. Universal mesmo é o medo, fruto da antropofagia ou da liberdade, ou do medo mesmo.
Medo.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Nesses atendimentos

Odeio telemarketing. A ideia de alguém falando comigo apenas lendo um script me apavora. Todas as perguntas possiveis relacionadas ao motivo pelo qual eu estaria ligando para os senhores.
Pelo menos posso descontar todas as frustrações de minha vida, não apenas a grandississima merda que eles fizeram para que eu ligasse.