domingo, 8 de dezembro de 2013

Mãos

E era assim.
Ela enrolava minhas pequenas mãos nas suas, grandes e fortes. Me olhava daquele jeito amoroso, confiava e me dizia, quando atravessávamos a rua "corre". E eu corria, esticando minhas pernas pequenas e gorduchas como se fosse o fim do mundo, como se atrás de mim se abrissem grandes precipícios entre as enormes faixas brancas em que meus pés teimavam em tocar.
Sua força, seu amor e sua coragem me guiaram por muitas vezes, e me guiam hoje quando ela apenas me diz para não esquecer o guarda-chuva.
Em muitos momentos depois, quando eu tenho imensa vontade de parar de correr (ou simplesmente caminhar pelas faixas que a vida põe à minha frente enquanto destrói tudo o que deixei para trás), me lembro das mãos dela.
Na vida há momentos que não sabemos nem mesmo porque choramos. Mas choramos. Porque somos esse conjunto de alegria e tristeza que se mescla e forma nosso caráter.
As cicatrizes marcam aquilo que vencemos.
Vencemos quando paramos de chorar e mesmo quando choramos, estamos vencendo.
É fato que essa força de vontade de seguir some mais vezes do que eu gostaria.
Pintamos nossa figura como a mais forte de todas, nos tornamos fortes porque acreditamos nisso.
Não ganhamos todas, nem poderíamos, não há grandes lições apenas em vitórias plenas. Precisamos cair às vezes: na realidade, no choro, na risada, na cama.
Esperamos que com essas lições involuntárias, nossas pequenas noções de vida e de como proceder com esse dom que nos é dado sem manual de instruções, se aperfeiçoem.
Queremos nos tornar pessoas melhores e mais fortes porque precisamos aprender a correr sem segurar nas mãos de ninguém, porque - mesmo de forma figurativa, como no meu caso - crescemos.
E imaginamos que ao atravessar as ruas sem mãos fortes que envolvem as nossas pequeninas mãos inexperientes, caimos.
Porque vamos continuar, e algumas vezes cair e ralar o joelho, mas precisamos continuar.
E mesmo que não possamos saber com certeza, na verdade, eu acho que nunca estamos correndo sozinhos.
As mãos são outras e as mesmas ao mesmo tempo, e corremos.
Ainda queria voltar ao tamanho de embrião e me proteger dessa loucura que é a vida e de suas inenarráveis fontes de esgotamento. Mas o que ficou para trás é pó. Então não podemos parar.
Chorando ou rindo corremos.
Porque o caminhar é desse jeito: um sem fim de um passo após o outro enquanto atrás de nós tudo vira cinzas.
Novas mãos, amores, amigos, desilusões e faixas de pedestre. Não é a vida um correr acompanhado, afinal?
Segura minha mão para que juntos possamos vencer os precipícios tristes.

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