sexta-feira, 15 de junho de 2012

Desembrulhar

Nem sabia ao certo qual cor queria. Não sabia se deveria escolher pela cor, ou pelo cheiro. Maçãs só podem ter gosto de maçãs. Teu beijo, esse não, vários gostos para cada momento.

Levantou-se. Era apenas um sonho, e de fato escolher maçãs não deve ter um significado tão profundo (se é que os sonhos carregam em si essa premonição). Estava tudo espalhado. As caixas, os livros, a cafeteira, única coisa que já havia desembalado. Um espelho pequeno sobre a mesinha de centro que colocou estrategicamente ao lado do colchão. Tudo em caixas, ou desmontado, sem representar sombra do que poderia ser.
Se sentia como a cômoda. Desmontada, sequer daria sinais do que poderia ser. Talvez os puxadores em formato de pequenas rosas brancas desse um leve sinal do que seria o móvel desmontado. Mas o que nela daria essa pista?
Os olhos. Os olhos são o espelho da alma. Alguém a havia dito que tudo o que ela sentia perpassava pelos olhos. Se olhou no pequeno espelho. Se todo sentimento perpassa pelos olhos, ele não será a melhor pista do que sou, então. Não pode ser. Coragem. é preciso uma boa dose de coragem. Desempacotar, desembrulhar e montar. Uma experiencia tão nova não podia ser desmotivadora. Haveria de achar o que há de maravilhoso nessa etapa.
Campainha.
- Oi! Estou surpresa com sua visita.
- Eu estava passando e pensei...
Todo o resto foi um dia em que empacotar e desembrulhar era apenas acessório. Percebeu que mesmo faltando um pedaço, o que sobra de nós nos faz completos em abstrato.
E porque não pensar que nos completa em substância?


Um comentário:

  1. Manoel de Barros ja diz que são nossos ermos que nos somam, e eu acho também, esse amontoado todo de seiláoque e pedaços faltantes que acabam por nos preencher.

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