quarta-feira, 13 de junho de 2012

Cotidiano.

Lá me vou, encarando a obscuridade dos dias, a mudança das estações e os sabores desse jogo de xadrez que se tornou a vida. Como um peão, me lanço à batalha tendo certeza do meu próprio abate. Me satisfaço com o forte sabor da cafeína e a fumaça escura da cidade. Observo como um ator, desempenho a função do figurante. Me afasto dos sons dessa quasevida que é a metrópole sob a falsa capa dos fones de ouvido. Ouço musicas que me fazem caminhar sem pensar. Ouço musicas que me fazem chorar, lembrar ou rir de graça.
Canto alto, ninguém me ouve ou entende. Continuo o dia sentada, escrevendo letra após letra daquilo que sintetiza o que penso sem que nada do que foi escrito fosse capaz de dizer algo sobre mim. Converso sem falar. Maldita internet.
Falo sem esperar resposta. Espero sem falar. Assuntos dos mais diversos são alvo do meu sarcasmo e da minha estupidez.
Ensaio uma fé que não sei se tenho. Passa a hora, sem que eu me lembre que precisava almoçar. E aquela reuniao? Aquele telefonema? Esquece. Nada vai adiantar agora.
Me fascinam os pássaros. As aves, de uma forma geral, fazem o que eu gostaria de fazer a vida inteira: voam. Mas talvez se eu voasse, talvez assim não tão remotamente, talvez eu não desse nenhuma importância pra isso.
Posso tomar um vinho essa noite. No quarto, meia luz. Na rua, luzes bruxuleantes de postes elétricos (seria isso possível?). Observo o movimento como um urubu a esperar o melhor momento de atacar a carniça. Como se estivesse acima disso tudo e ao mesmo tempo precisasse disso. Não preciso da desgraça alheia. Nem da alegria alheia. Nada fora de mim é capaz de me sustentar.

Voltei. Me deito com o sentimento de dever não cumprido para no dia seguinte levantar, novamente, com a sensação de caminhar sobre cacos de vidro. Sem sangrar.

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